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Por que alguns clientes tratam entregadores de aplicativo como se fossem criados?

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Os desafios enfrentados pelos motoboys: quando o entregador é tratado como objeto

Todo motoboy já viveu ou ouviu de perto uma agressão: há muitos clientes que tratam o entregador como um objeto, não muito diferente daquilo que o entregador carrega. Motoboys ouvidos pelo Fantástico não entendem por que alguns clientes fazem do prestador de serviço um criado.

Para Alan José da Silva, motoboy entrevistado pelo programa, a atitude de desrespeito por parte dos clientes é incompreensível: "Até hoje também é uma pergunta boa, que eu não sei te responder ao certo o que um ser humano pensa em desfazer de uma pessoa que está te servindo. É porque será que eles estão pagando? eles têm o direito de chegar e achar que pode fazer tudo, como na época dos escravos?".

Danilo Correia, outro motoboy, também compartilha da mesma perplexidade: "Ou é medo ou é revolta, não consigo entender também. Sei que é muita revolta no coração dessas pessoas, no pensamento".

Paulo Cesar Ferreira, motoboy, enfatiza a falta de empatia desses clientes: "Eu vejo uma pessoa dessas não ter amor ao próximo".

A forma como os motoboys são tratados pelos clientes reflete uma herança histórica e social do Brasil, uma herança escravocrata, conforme opina Renato, professor de Geografia que complementa sua renda com entregas: "Essas pessoas refletem uma herança histórica e social do nosso país, da sociedade que a gente vive, uma herança escravocrata. Uma herança em que as pessoas que trabalham são vistas exclusivamente como mão de obra, como serviçais, aqueles que devem servir: 'Uma vez que eu estou pagando eu tenho direito de fazer o que eu quiser'. Há um processo profundo de desumanização sobre esse regime".

Os relatos de agressões e humilhações vivenciados pelos motoboys são constantes. Casos como o de Thiago Santos, motoboy que foi ameaçado com uma arma por um cliente, ilustram a expressão "sabe com quem você está falando?".

A recomendação das empresas de delivery é clara: os entregadores não precisam subir até a porta do morador. A entrega pode ser deixada na portaria, visando a segurança de ambos os lados, já que as partes desconhecem quem está do outro lado da porta. Além disso, a entrega pelo portão diminui o risco de furto da motocicleta.

No entanto, a pressa dos motoboys é outro fator a ser levado em consideração. Cada minuto parado representa uma perda financeira significativa para esses profissionais, que muitas vezes arriscam suas vidas para fazer as entregas. Júnior Freitas, motoboy, destaca a importância dessa função em sua renda: "Cada minuto que a gente para a gente deixar de ganhar. Isso vai impactar o nosso orçamento no final do dia e é isso que vai direcionar o que meu filho vai comer amanhã".

O tratamento desrespeitoso recebido pelos motoboys vai além do aspecto profissional, revelando as tensões sociais e o preconceito velado existente na sociedade brasileira. Renato Nogueira, professor de Filosofia da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), destaca que esse tipo de comportamento reflete a herança da cordialidade brasileira, um mecanismo de evitar confrontos abertos, mas que mantém o preconceito vivo de forma velada.

É necessário fortalecer a ouvidoria de espaços comunitários, como família, escola e local de trabalho, para que as pessoas possam expressar suas insatisfações e desconfortos sem receio. Além disso, é importante combater a positividade tóxica, que ignora os problemas e acredita que tudo está bem o tempo todo.

O aumento do número de entregas durante a pandemia contribuiu para o aumento dos conflitos entre motoboys e clientes. É fundamental que as informações sobre o serviço estejam claras durante a contratação da entrega, mas também é necessário respeitar as regras estabelecidas pelos condomínios.

Os motoboys são trabalhadores que merecem respeito e tratamento digno. Eles arriscam suas vidas todos os dias para garantir que as entregas sejam feitas com rapidez e eficiência. É fundamental que a sociedade como um todo reflita sobre a importância desses profissionais e busque tratá-los com a devida consideração e empatia.

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