As Praias Brasileiras e seus Ilustres Visitantes
Todo ano é a mesma coisa, com a chegada do verão as praias brasileiras de norte a sul ficam lotadas de turistas estrangeiros. "Gringos" nativos de países como Estados Unidos e Canadá que fogem do frio congelante que é característico do Hemisfério Norte nessa época do ano, já que enquanto o final de dezembro marca a chegada do verão por aqui, lá é o inverno que se inicia.
Esses turistas vêm voando, alguns fazem escalas estratégicas ao longo de suas viagens que podem ultrapassar facilmente os 10 mil km entre a terra natal e o litoral brasileiro. Além do calor, eles chegam em busca de alimentação farta, principalmente "frutos do mar", incluindo crustáceos, moluscos e vermes marinhos.
Isso mesmo, vermes marinhos... Como diria a célebre dupla Timão e Pumba: "viscoso, mas gostoso". Mas se você já estava com pena dos convidados que eventualmente frequentam jantares na minha casa perto do litoral, nos parágrafos anteriores não estava me referindo a turistas humanos, mas a "gringos" emplumados.
Os Ilustres Visitantes
Anualmente, na primavera e verão mais de 30 espécies de maçaricos e batuíras migratórias trocam as redondezas do Polo Norte pela "badalação" das praias brasileiras. Essas aves nasceram e retornam todos os anos para reproduzir entre maio e agosto em regiões no norte dos EUA, Canadá e Alasca.
Quem está indo curtir o final do ano na praia, é só ficar atento que eu tenho certeza que acabará encontrando essas espécies fantásticas. A batuíra-de-coleira (nome científico) e o maçarico-branco (nome científico), por exemplo, são espécies comuns de serem observadas correndo das ondas na praia. Já espécies como o maçarico-de-perna-amarela (nome científico) e o maçarico-grande-de-perna-amarela (nome científico), embora também relativamente comuns, preferem outros ambientes litorâneos, como manguezais e lagunas à beira mar.
O Risco de Extinção
Imagina você a caminho da praia para passar o final do ano e aquele posto de gasolina com que você estava contando pouco antes da virada da serra fechou. No seu caso a falta de combustível seria um transtorno, mas você daria um jeito e cedo ou tarde seguiria viagem. Batuíras e maçaricos migratórios também fazem paradas estratégicas de descanso e "reabastecimento" ao longo de suas rotas de viagem.
No entanto, para eles, o "fechamento" de algum desses pontos estratégicos ao longo da viagem, por conta da destruição para a construção de um porto marítimo, um parque de energia eólica (que como um liquidificador gigante despedaça as aves em voo), um condomínio, ou outros empreendimentos à beira mar podem resultar no fim da viagem não apenas para alguns indivíduos mas potencialmente para espécie como um todo.
O maçarico-de-papo-vermelho (nome científico) é um triste exemplo da situação de risco que se encontram muitas espécies de maçaricos e batuíras migratórios. A espécie reproduz no verão da tundra canadense e migra assim que o frio se aproxima para, literalmente, o outro lado do mundo: a Terra do Fogo, na Argentina.
Se deslocando entre os dois extremos do globo, o maçarico-de-papo-vermelho faz paradas estratégicas de reabastecimento na costa leste dos EUA e em diferentes pontos da costa do Brasil, especialmente na costa do Pará e do Rio Grande do Sul. Ida e volta, anualmente chega a percorrer inacreditáveis 30.000 km. Embora passe a maior parte do ano em duas regiões bem selvagens - a tundra canadense e a Terra do Fogo -, a destruição e alteração dos locais estratégicos onde a espécie para ao longo da sua migração têm levado a uma redução populacional contínua das populações do maçarico-de-papo-vermelho nas últimas décadas e fez com que seja considerada ameaçada de extinção.
Como Ajudar na Conservação
Além da conservação dos seus ambientes naturais, algumas atitudes simples podem ajudar os maçaricos e batuíras. Se você for dividir a areia da praia com as aves, seja nessa ou em qualquer outra época do ano, não deixe que cachorros ou crianças corram atrás e persigam as aves. Também não ande de carro ou quadriciclo na areia.
Nós brasileiros costumamos ter fama de ser um povo hospitaleiro com turistas estrangeiros, mas estamos precisando tratar com muito mais respeito e carinho essas aves fantásticas que, embora sejam consideradas turistas, são brasileiras de coração, já que anualmente passam mais tempo por aqui do que nos seus locais de reprodução.
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